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terça-feira, 13 de março de 2012

PADRE CHAVES

Monsenhor Joaquim Chaves, o Padre Chaves, como ele gosta de ser chamado, faz muitos anos que se dedica de corpo e alma a igreja do Amparo, a primeira de Teresina, a igreja de seu amor. Sacerdote virtuoso, coração de bondade e sentimento, venera-o a paisagem teresinense, a que ele tem doado o melhor de uma vida de trabalho espiritual intenso, rezando missa, batizando menino, casando noivos, confessando pecadores, confortando fiéis. Todos gostam das práticas religiosas que ele realiza, pois nelas gasta apenas os instantes preciosos, com o que exonera a gente da freguesia de demoradas cerimônias e predicas puxadas. Adota receita segura para não prejudicar a paciência do próximo, ao mesmo tempo em que se põe sempre solicito e amigo leal e correto, inexcedível no querer bem aos outros.

Ao lado da piedade, debruça-se sobre a pesquisa histórica, persistente, sustentado por capacidade de observar, e desse esforço surgiram escritos de valor, úteis, honestos, rico patrimônio para repasto dos estudiosos. O seu livro sobre Teresina, que se incorporou as festas comemorativas dos primeiros cem anos da cidade como documentário expressivo, lembra as fases iniciais da capital piauiense - as ruas, os cafés, os templos, as casas comerciais, o teatro, os furdunços carnavalescos, as manifestações religiosas, os episódios cívicos, o telegrafo, o barco de vapor, a higiene, a policia, as escolas, os passeios de cavalo - enfim o que ia nascendo, o que se ia criando, os passos inaugurais dos costumes e do progresso da comunidadezinha plantada pelo conselheiro José Antônio Saraiva, o fundador, entre dois rios. E os forrós. E os serenos de baile. E a discurseira laudatória nos banquetes e bródios. Quantas cousas antigas, com cheiro de mofo, o bom Padre buscou em registros velhos e delas fez obra saborosa.

Neles o pesquisador preocupa-se sobretudo com a verdade e tem coragem de assentá-la e escrevê-la. As lições dos seus livros constituem fonte segura para conhecimento de variado aspecto da história do Piauí, que ele expõe e analisa com critério. Oferece estilo plástico, prosa ágil, sabe reviver o passado e os homens que o construíram, e faz crítica de forma imparcial e cuidadosa.

De mim, julgo-o historiador sereno, hábil, metódico, às vezes irreverente, apoiado sempre sobre invulgar capacidade de discernir e interpretar.

Teresina tem bons historiadores, como Pereira da Costa, Clodoaldo Freitas, Higina Cunha, para citar alguns mortos ilustres. Dos vivos muitos são os pesquisadores dos acontecimentos que se verificaram na cidade criada por José Antônio Saraiva.

O padre Chaves não se preocupou apenas com os episódios da vida histórica e política da cidade que tem o nome de gente nobre. Foi além, revelando, em livro curioso, aspectos sociais e pitorescos da cidadezinha tranqüila e afetiva. Antes dele, preocupado somente com os costumes do fim do século XIX, só Abdias Neves, num romance naturalista.

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Faz anos o padre Joaquim Chaves obteve o 1º lugar em concurso do governo do Estado, com a obra O PIAUÍ NAS LUTAS DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL, obra de estudo sério, em que se definem personalidades e episódios sinalizadores de patriotismo invulgar na conquista da autonomia de nossas instituições, que expulsaram as armas portuguesas do território piauiense - trabalho que pode figurar entre os que nos legaram Pereira da Costa, Odilon Nunes, Clodoaldo Freitas, Anísio Brito, Carlos Porto, Esmaragdo de Freitas, Abdias Neves, para citar alguns mortos, e Wilson Brandão, Pe. Cláudio Melo, Bugyja Britto, Camilo Filho, entre os vivos.

Fez 2ª edição da obra em 1975, agora revisada pelo autor, na exaustiva tarefa de nova redação, o que se conseguiu com a cooperação da Academia Piauiense de Letras, para esta 3ª edição, sob os auspícios da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, dirigida pela inteligência de João Cláudio.


A. Tito Filho, 14/03/1992, Jornal O Dia

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