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terça-feira, 6 de março de 2012

ESCOLAS

Quando me entendi em Teresina as mães viviam em casa, amamentando os pequerruchos, ou no preparo de mamadeiras ou dando fraldas, bem assim educando os meninos até que, aos sete anos, ingressavam na escola primária, ou no grupo escolar. A garotada começava o estudo de manhãzinha e nele permanecia até as onze horas, no bom recitativo da tabuada e na soletração de palavras. Os estabelecimentos pertenciam ao governo. Exigência apenas da fardinha caprichada, sapato ou botina e meia. Certamente que por baixo havia a calcinha das meninas, que os machos andavam descuecados. Havia escolas particulares, de professores e professoras, de irrisório pagamento.

Ainda no começo da década de 30, segundo me contam, existiam na capital piauiense dois educandários oficiais de ensino secundário, o Liceu e a Escola Normal. Ensino integralmente gratuito, a rapaziada só gastava a farda e o calçado ganho dos pais. Um prestígio de dar inveja a situação de liceísta e normalista. A merenda, que hoje pernosticamente se chama lanche, se fazia numa espécie de quiosque das imediações, geralmente constituída de garapa de cana e um pãozinho redondo, de nome caramujo.

Dois estabelecimentos particulares havia, cada qual de muito conceito, ambos com internato e externato: o Colégio Diocesano de homens e o Colégio das Irmãs de mulheres, que ainda desafiam os tempos. Os internos tinham saída aos domingos - e a gente via pelas ruas fardados donzelos e donzelas, pálidos, como quem viu alma do outro mundo, depois de seis dias prisioneiros.

Professores famosos, os do ensino primário e os do secundário. Capazes, sérios, respeitados. Mestres que fizeram história e educação.

Quase os estudantes não gastavam com livros, se não os que queriam nas raras livrarias da cidade. As aulas eram suficientes para o aprendizado, o que não acontece hoje, com aulas mastigadas, incompreensíveis pelos pobres e abandonados pupilos. Tanto faz que entendam ou não o ensinamento, nada se repete.

Hoje as mães vivem nas ruas. Instituíram-se creches, onde os meninos aprendem a engatinhar. Em seguida, escola maternal. Depois, jardim, alfabetização - e a seguir o primeiro e o segundo graus, tudo em estabelecimento de negócios particulares. As escolas do governo, ditas hoje do primeiro e segundo grau, oferecem péssimas condições de ensino, razão pela qual os pais se sacrificam nas escolas particulares, de elevado preço e exigências absurdas de vinte cadernos, coleções de madeira, de cera, hidrocor, figurinhas de jogador de futebol, resmas de chamex, cinco tesouras, um binóculo, vinte rolos de papel higiênico, trinta pacotes de absorventes para as mulheres, vinte folhas de estêncil, uma máquina de escrever, um computador dos Estados Unidos e contribuições para as festocas. Os jovens, machos e fêmeas, carregam tanto peso que ficam tortos de um dos lados - fora lencinho de papel, toalha, escova de dente, pasta, sabonete, desodorante, roupa de banho e outros ingredientes que me fogem da memória. Tudo moderno e amplamente atual.


A. Tito Filho, 02/04/1992, Jornal O Dia

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