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terça-feira, 27 de março de 2012

O VAPOR

Naquele tempo, depois dos folguedos de primeiro de janeiro, o pessoal que vinha a Teresina costumava recitar nos momentos de despedida:

Eu vô me embarcá
Qui o vapô já apitô
Inté para o ano
Se nós vivo fô.

Era a saudade no coração dos visitantes, que retornavam pelo rio aos seus pagos queridos.

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No governo do presidente Oliveira Junqueira constitui-se a Companhia de Navegação do rio Parnaíba, em 1858. Antes da promissora circunstância, já os poderes públicos haviam encomendado, no Rio de Janeiro, aos estaleiros navais de Ponta d'areia, o primeiro vapor para o rio Parnaíba, lançado ao mar a 12 de agosto daquele ano. Sofreu reparos no percurso. Em abril de 1859 chegou ao Recife.

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O bom do padre Joaquim Chaves conta a história: "Foi assim que no dia 19 de abril, às três horas da tarde, soltando silvos profundos e prolongados, contando vagarosamente as águas do rio e deixando para trás uma esteira branca de espumas, o Uruçuí aproximou-se de Teresina e, majestoso, ancorou em frente à praça da Constituição" - que, esclarecemos, hoje tem o nome de Marechal Deodoro.

Padre Chaves passa a narrar o entusiasmo da cidade: "Os sinos do Amparo batiam a rebate, foguetes estouravam por todos os lados e uma imensa mole humana corria pressurosa para o rio, descendo por todas as ruas. Até os aleijados e doentes, carregados em redes por negros escravos, demandavam o rio, apressados, para verem de perto aquilo que mais lhes parecia um sonho. De fato, para muitos dos espectadores aquele gigante de ferro, daquele tamanho, boiando n'água, constituía um enigma insolúvel. Era preciso ver para crer".

Imensa a alegria generalizada. O vapor mudaria muita cousa nos costumes do Piauí e de Teresina.

Comandou o Uruçuí o 1º tenente da Marinha - Álvaro de Carvalho, que teve homenagem de jantar oferecido pelo presidente do Piauí, Antônio Correia do Couto. Houve ainda festa dançante.

As autoridades e convidados realizaram passeio em frente de Teresina, subindo e descendo o rio.

A 24 de janeiro iniciou a primeira viagem no rumo de Parnaíba. Fez viagens freqüentes durante nove anos. Naufragou em 1867, no lugar Coroa da Aurora, abaixo da povoação de Nazaré. Partiu-se em três pedaços.

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Viajei nesses navios de vapor, tão agradáveis, duas vezes, pelo rio São Francisco. E a 18 de janeiro de 1947, comprei passagem num gaiola, em Floriano, chegando a Teresina no dia seguinte, manhãzinha, no momento em que o povo começava a votar para a escolha do governador do Piauí. Beleza de viagem.

Os tempos passavam e os gaiolas foram desaparecendo do riozão famoso e da paisagem de Teresina - até que se sumiram, deixando um rol de saudades.


A. Tito Filho, 15/03/1992, Jornal O Dia


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