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quarta-feira, 28 de março de 2012

COMENTÁRIO

A 21 de abril, depois de muito sofrimento e irresponsabilidade de alguns médicos, morreu Tancredo Neves, presidente eleito da República. Ainda a 21 de abril decorreram mais de 30 anos da fundação de Brasília, cidade artificial criada por dois gênios, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. Os dois projetaram-na para 500 mil habitantes, mas hoje ultrapassa os dois milhões de habitantes, cercada de favelas miseráveis por todos os lados, o que demonstra que o governo brasileiro jamais adotou medidas sérias em benefício da tranqüilidade social.

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Fez também a 21 de abril 200 anos do sacrifício de Tiradentes, na força armada no Largo da Lampadosa, um brasileiro como poucos, de coragem e de vergonha, que assumiu integral responsabilidade pelo movimento dos conjurados mineiros, seus companheiros de ideal. Não denunciou ninguém.

Anos passados era uma de civismo nacional o dia do protomártir da independência. As escolas, as instituições culturais, os organismo de governo promoviam significativas solenidades, para lembrar a memória de Tiradentes. Hoje, só por exceção, raras entidades promovem gestos de homenagens a quem tanto compreendeu os anseios patrióticos nacionais, dominados pela tirania portuguesa.

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Neste 1992 houve a Semana Santa, dias em que a Igreja realiza as cerimônias da paixão e morte de Cristo. Tempo de meditação. De modo geral o recolhimento espiritual dos fiéis começa 4ª feira e se prolonga 5ª, 6ª feira da via crucis rumo ao Calvário, sábado da aleluia, domingo da ressurreição. Cinco dias em que os católicos cumpriram as obrigações religiosas nos tempos e depois se recolheriam à intimidade dos lares, para comunhão com a família.

Que se deu este ano? O feriado nacional de Tiradentes caiu na 3ª feira. A Semana Santa encerrou-se domingo, dia 19. Logo a malandragem brasileira, com apoio oficial, enforcou o dia 20. E as coisas que deveriam ser sérias foram mandadas às favas. A Semana Santa e Tiradentes emendaram-se, sete dias de ódio, num país em que não há necessidade de trabalho nem esforço.

Estude-se o Brasil dos últimos 40 anos. Um país sem leitura séria, muito bem exemplificado pela Escolinha do Professor Raimundo, de alunos idiotas, imbecilizados, pândegas. Enterrou-se o civismo. O jovem não tem horizontes e responde com a droga e a violência. Menino-de-rua tornou-se profissão rendosa e altamente confortável.

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Em abril de 1992, a Semana Santa e Tiradentes transformaram-se num feriadão de estradas entupidas de carros que buscavam o vício e a promiscuidade das praias de sexo à mostra. Retrato de um Brasil doente, rico de preguiça e de menosprezo à dignidade nacional.


A. Tito Filho, 12/05/1992, Jornal O Dia

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