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quarta-feira, 7 de março de 2012

ANTANHO

Fazem-se preparativos para uns dias de gala em homenagem ao centenário do querido Teatro 4 de Setembro. Registrou a crônica que no dia 4 de Setembro de 1889, quase no fim dos tempos imperiais, senhoras ilustres, de chiques vestidos da moda na barra da saia, perto do osso gostoso, foram ao presidente da Província do Piauí, Teófilo dos Santos. Queriam um teatro na capital. O primeiro magistrado deferiu o pedido e admitiu que os bagarotes para a construção estavam nas arcas do tesouro público. Podiam as matronas providenciar a planta. A 21 de setembro houve a pedra fundamental e a respectiva discursaria. Obra concluída em 1894 e inaugurada a 21 de abril.

Nos idos de 1938 e 1939, trabalharam no 4 de Setembro notáveis companhias teatrais, como as de Jaime Costa, Barreto Júnior, Álvaro Pires, Procópio ferreira e outras, sem que se consiga esquecer Marquise Branca, a adorável Marquise, carnes de exemplar brancura, no comando de garotas livres, vestidas de calcinhas até o meio das coxas, mas de pedaços da barriga de fora. As partes pudibundas mais sérias ainda ficavam escondidas, só apareciam os montes apetitosos por trás e pela frente. Esses espetáculos eram condenados pela beatice dos dois sexos e pelo puritanismo de casadas receosas e maridos safados. Só os freqüentavam machacás solteiros, atraídos pelas meninas escandalosas. Os chamados homens direitos se viam privados, caladões nas cheirosas redes caseiras, sonhando de olhos abertos com os repastos lascivos ofertados por Marquise Branco. Uma delas, minha querida Zezé Gonçalves, punha a platéia louca, babujando despudor, na hora de cantar, cigarro no canto direito da boca pintada, cabelo pega-rapaz, vestida à moda de rapariga, aquele tango argentino rico de volúpia. Ela, olhos mortos, num gesto de doação, voz lânguida, virava a cabeça da gente: FUMANDO ESPERO AQUILO QUE MAIS QUERO...


A. Tito Filho, 12/04/1992, Jornal O Dia

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