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quarta-feira, 14 de março de 2012

MÉRITO

Seria exaustivo relacionar todos os episódios de lutas que se têm verificado no Brasil, desde a fase colonial até os dias atuais, cada qual apoiado sobre causas, que os historiadores, no passado como no presente, procuram revelar e interpretar - e muitos desses episódios ainda se encontram em processo polêmico. A grande Revolução industrial do princípio do século XIX provocou profundas transformações na sociedade dos homens. De feito, a máquina tornou-se responsável pelo poder industrial, que desorganizou a família, baseou a riqueza das nações no combustível, comercializou o afeto - base da educação - e derribou estruturas seculares.

O Brasil não poderia fugira da sua influência. a abolição da escravatura, e conseqüente adoção do regime republicano, promanou da civilização industrial. Da instituição da República até hoje, o país vive instavelmente, com a queda de homens do poder, se se analisam superficialmente as causas. O período republicano bem atesta a afirmativa. É que o ciclo revolucionário brasileiro ainda não se completou, e só se completará quando os desequilíbrios sociais, a injustiça social, a fome sejam vencidos, com o estabelecimento de processos humanos de vida - a abdicação do inumano pela valorização do homem.

Quantas revoluções brasileiras de 1922 a esta parte? Talvez elas tenham origem próxima na pregação civilista de Rui, com que contagiou os moços, civis e fardados. Do Rui-profeta, que se antecipou a Getúlio Vargas na luta contra a exploração do homem pelo homem.

Ainda se registrarão as causas profundas dos movimentos de 1922, 1924, 1930, 1937, 1945 e 1964. Não foram movimentos de homens em armas, mas movimentos de inspirados por cérebros interpretadores da inquietação e da angústia do brasileiro, inconsciente ainda dos direitos e deveres que lhe outorgaram constituições políticas feitas em gabinetes, bem distantes da realidade nacional.

Nesta apreciação não sou pela idéia do analisar tais movimentos, nas suas causas remotas e próximas. Cabe-me ressaltar o registro da testemunha e do pesquisador dos fatos que integram as manifestações revolucionárias de 1922 a 1931 no Piauí feito pelo General Moysés Castelo Branco Filho, uma das figuras ilustres da terra piauiense, pela dignidade moral, pelo civismo, pela inteligência cultivada, pelo amor ao estudo - professor como raros, matemático acatado, apaixonado da história e dos seus processos de investigação e análise - esta obra bem comprova a operosidade intelectual e os conhecimentos seguros e sérios de que se compõe a personalidade do autor - para lição de história com a verdade que soube testemunhar e documentar e a pesquisa que a busca da verdade lhe atribuiu para comprová-la, em toda a plenitude.


A. Tito Filho, 29/05/1992, Jornal O Dia

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