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sexta-feira, 16 de março de 2012

CARNAVAL E ENTRUDO

A esta palavra têm sido atribuídos muitos étimos diferentes.

O velho Morais dá-lhe origem italiana carnavale ou canevale, também carrus e navalis, que dariam os elementos car e naval para a formação da palavra. O autor pretendeu referir-se talvez aos carros alegóricos característicos de festejos carnavalescos. Para Xavier Fernandes o étimo referido não tem fundamento histórico.

Diez sugeriu que carnaval derivou de duas palavras latinas: caro, carnis (carne) e vale (adeus), significando adeus, ó carne.

Deve observar-se que a raiz do primeiro elemento carn não pode ser um vocativo. Esta a razão pela qual os estudiosos levam à conta de fantasia a sugestão do ilustrado filólogo.

Xavier Fernandes anota o estudo de Bouillet: "Carnaval formou-se do latim caro e do francês avale, de avaler, engolir, comer. Bouilet não se importou com a  formação híbrida, que sugeriu, e - pior do que isto - esqueceu-se de que o vocábulo já existia no italiano antes de existir no francês".

Nascentes (Dicionário Etimológico) oferece o étimo italiano carnevale, mas observa: "É duvidosa a origem deste vocábulo, primitivamente designativo da terça-feira gorda, tempo a partir do qual a Igreja suprime (latim levare) o uso da carne".

Petrochi apontou como étimo o baixo-latim, interpretado por Stappers como carnis levamen, prazer da carne, antes da tristeza e continência da quaresma.

Em espanhol e catalão recebe o carnaval os nomes de carnetolendas e carnistoltes, em que o segundo elemento é o verbo tollere, tirar.

Magne depõe que no antigo francês houve a forma quarnivalle. No século 17, do francês o vocábulo passou ao alemão karnaval e ao inglês carneval.

Carnaval já expressou o tempo em que se comiam viandas e guisados de carne. Vieira escreveu: "Tumultuou o povo no deserto contra Moisés, e foi o tumulto de carnaval" - isto é, causou o tumulto as recordações do tempo em que comiam carne no Egito.

Delicioso livro de Mário Sette (Maxambombas e Maracatus) recolho a informação de que no velho Recife se brincou muito o Entrudo, um tipo de carnaval sem máscaras mas com banho dos foliões dentro de gamelas, tinas e barris.

Transcrevo as definições:

- Entrudo. São os três dias imediatamente precedentes à quaresma, nos quais é uso entre nós divertir-se o povo com que se molhar, empoar, fazer peças e outras brincadeiras, e banquetear-se (Morais).

- Entrudo. Carnaval. O divertimento dos três dias que precedem a quaresma. Antigo brinquedo carnavalesco, que consistia em lançar água uns nos outros, valendo-se de diversos meios (Fernandes).

Entrudo vem do latim introitu, entrada, naturalmente da quaresma. O ditongo latino oi deu ui por metafonia e ui reduziu-se a u, fatos que se comprovam em dezenas de palavras da língua. Morais registra a forma entroido como antiquada. Na região da Beira Alta, em Portugal, ainda vigora entruido e no velho espanhol existiu antruido, modernamente antrudo. Do galego copio antroido.


A. Tito Filho, 15/02/1992, Jornal O Dia

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