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quinta-feira, 29 de março de 2012

MONOTONIA

Basta que a autoridade proíba a exibição de programas ou quadros televisivos perniciosos, logo se enfurecem os falsos defensores da liberdade de comunicação, sob invocação de mandamento constitucional que veda toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística. Esquecem os pregoeiros da total exibição de aspectos nocivos das cousas e dos fatos, como as pornografias e as cenas de degeneração moral - esquecem que a constituição de 1988 determina que se observem, nos programas de televisão, as finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas e se respeitem os valores éticos e sociais da pessoa e da família.

Já se escreveu que a TV no Brasil se tornou um processo de maus exemplos, deseducativo por excelência. A sua poderosa influência revolucionou hábitos familiares, sobretudo por através das novelas de conteúdo passional e emocional, em que filhos desrespeitam os pais e estes se entregam a cenas deprimentes no recesso do lar. Não se pode fugir à triste realidade de que os freios morais da sociedade brasileira estão quase desaparecidos graças à televisão. A própria linguagem, um dos mais sérios símbolos da pátria, se degrada nas descomposturas, no calão, na baixeza das expressões entre pessoas que bem deveriam respeitá-la como instrumento maior de transmissão do pensamento.

Há no Brasil, em todas as partes do território nacional, baixeza moral, política de espertezas, ausência de ética, fuga aos deveres mais caros - e quase a totalidade das mazelas que desencantam os brasileiros se deve à televisão.

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Analisem-se os programas que mais curiosidade despertam nas telas televisivas, além das novelas de dezenas de capítulos, de português desasseado, expressões chulas, cenas inconcebíveis de ridicularias.

Noite e dia, dia e noite, a mesma cousa levada a um público que se comporta passivamente ante o desrespeito à personalidade de crianças, adolescentes, moços, maduros e velhos. Sempre o mesmo cenário e os mesmos assuntos. Oferecimento de dinheiro fácil a uma platéia à cata das cédulas do apresentador milionário. Calouros humilhados, objeto de gargalhadas de tipos e tipas dos júris deseducados, depois que a vítima recebe um banho de pó ou cousa semelhante, por vezes prejudicial à saúde física também. Pobres criancinhas nos xôs desenxabidos que as tratam mal e lhes impõem atitudes de obediência a determinações arbitrárias. Chico Anísio, inteligência admirada, bem poderia criar programas para público inteligente, que busca humor verdadeiro, jamais a monotonia de uma escolinha cujas cenas são as mesmas, de tarde como de noite, numa debochativa crítica ao processo das aulas e aos estudantes e mestres deste Brasil cuja escola pública se encontra desacreditada, ao lado dos cursos particulares que exercem o papel de arrecadadores de altas quotas do universo de estudantes convocados por propaganda irreal e malsã.

A escolinha de Chico Anísio constitui severa censura ao ensino nacional e serve de péssimo exemplo aos jovens que vêem televisão, revelando só tipos de alunos que a freqüentam, o homossexual, os débeis mentais, os ridículos, os estropiados da língua, os imbecis, os embriagados, enfim uma fauna que caracteriza de modo às vezes absurdo, às vezes real, as aulas brasileiras.

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O governo Collor está no dever de consertar os programas da televisão brasileira. Nela, na TV, inexiste moral. Para angariar audiências, anulam-se os valores éticos. Rebaixa-se a sensibilidade do povo, com o ridículo em tudo, num deboche permanente aos problemas, dramas, derrotas e misérias dos brasileiros.

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Já no carnaval de 1922 se exibiram artistas nus como nasceram, inclusive um macho representante de Adão. Tudo de fora.


A. Tito Filho, 23/04/1992, Jornal O Dia

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