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segunda-feira, 26 de março de 2012

OS PRIMEIROS TEMPOS

Poucos anos depois de fundada, Teresina teve o seu primeiro teatro, o Santa Teresa, época em que começaram a aparecer os primeiros clubes recreativos, mais freqüentes com a inauguração do Teatro 4 de Setembro, em 1894. No ano anterior, destinado à encenação de peças teatrais na nova casa de espetáculo, houve o grêmio dramático de Raimundo Artur Vasconcelos, Fócion Caldas e outros. No inicio do século XX funcionava "Filhos das Arte", de Jônatas Batista, Mário Batista e mais alguns. Pedro Silva e Jônatas Batista criaram o Clube Recreio Teresinense, que se dividiu, surgindo a entidade "Os Amigos do Palco", orientada por Pedro Silva, Luís Correia, Fenelon Castelo Branco e Higino Cunha. Intelectuais, senhoras e senhoritas deram inicio à Hora Artística Familiar, nos anos 20, representada nas manhãs de domingo, no Teatro 4 de Setembro, com exibição de recreativos, danças, cantos, instrumentos musicais. Tornou-se o encantamento de numeroso público.

Após 1930, várias agremiações literárias e de estudos sociais tiveram surgimento para ativar a vida intelectual de Teresina, a exemplo do Teatro Experimental Escolar, o Clube Telúrico, o Teatro Acadêmico da Faculdade de Direito e Meridiano.

De prestigiada atuação antes dos anos 30, houve a Arcádia dos Novos e o Cenáculo Piauiense de Letras.

O Instituto Histórico e Geográfico Piauiense é de 1918, de brilhante atividade até a presidência de Josias Carneiro da Silva, nos primeiros tempos da década de 70, encontrando-se desativado nos dias correntes.

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Em 1931, jovens da sociedade teresinense criaram uma curiosa sociedade a quem deram o nome de A CATERVA. Foram eles Jacob de Sousa Martins, Clemente Honório Parentes Fortes, Anízio de Abreu Cavalcanti, Ismar Bento Gonçalves, Raimundo de Moura Rego, Gonçalo Lopes Lima, José do Patrocínio da Silveira Caldas, Afonso Barbosa Ferreira, Firmino Ferreira Paz e Wagner de Abreu Cavalcanti. Tratava-se de "uma congregação unida por afinidade intelectual" e os criadores desejavam sobrepor-se ao marasmo da inteligência do meio. Reinava a pobreza material que não permitia iniciativas sérias.

O seminário dominical "O Lábaro" constituía a imprensa da mocidade. Nas suas páginas revelaram-se talentos. Tinha feitio literário, mas cessou de existir por razões financeiras.

Surgiu, a 3 de maio de 1931, "A VOZ DO NORTE", com rápida conquista de leitores cultos. Tinha aspecto sadio e nas suas páginas Moura Rego e Wagner Cavalcanti publicavam elogiadas concepções de prosa e poesia.

Nesse tempo vivia Antônio Lemos, o SEMANA, respeitável figura do jornalismo piauiense, que editava o órgão político a LIBERDADE, em cuja sede ele suportava pacientemente as declamações de Wagner, as piadas de Clemente Fortes, as sátiras de Afonso Ferreira.

Os rapazes conjugavam-se, espiritualmente, e formaram um bloco especial, A CATERVA, nome escolhido por Anízio Cavalcanti e aprovado pelos colegas.

Havia em Teresina um lugar de afluência de estudantes, o Arquivo e a Biblioteca Pública do Estado, e aí se liam livros de literatura e de outros gêneros. Nesse ambiente surgiu a idéia da fundação de um jornal literário, que foi A VOZ DO NORTE, e de uma entidade de sócios restritos, integrada dos setores do órgão, denominada A CATERVA, em que preponderava a afinidade moral e intelectual dos seus membros.

Um interessante e curioso grêmio cultural, que não tinha prazo de reunião. Os jovens que o constituíram puderam sacudir a sonolência intelectual dos teresinenses nesses inesquecíveis anos da década de 30.

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Um só desses grêmios continua em funcionamento. Tiveram vida efêmera.


A. Tito Filho, 14/04/1992, Jornal O Dia

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