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segunda-feira, 5 de março de 2012

ANTIGUIDADES

A história de Teresina guarda muita cousas pitorescas e inesquecíveis. Abaixo se relacionam algumas.

PIPIRAS. As pipiras viveram no tempo da fábrica de tecidos, assim chamadas porque merendavam bananas.

CURICAS. Eram as empregadas domésticas, que não se sentavam à mesa dos patrões, mas recebiam o prato de comida por cima do peitoril que separava a sala de refeição da pequena área descoberta no interior da casa. Manoel Joaquim, conforme me contou o fabuloso Antônio Sales, testemunha ocular da velha Teresina, realizava o baile das curicas. Havia ainda o concurso de misse curica.

FREGES. Vendiam bóias fartas e saborosas em alguns pontos da cidade. A garapa de cana procedida de São Joaquim e Acarape, em ancoretas e cabaças. Comprava-se o caneco com um pedaço de beiju. Dias festivos, na porta do Teatro 4 de Setembro ou dos arcos, vendiam-se manuês, arroz-doce, jenjibirra, frito de porco, frutas e outras guloseimas.

MATINÊS. Antes da luz elétrica, os bailes se realizavam de tarde, a partir do meio-dia, porque de noite a iluminação se fazia de lampiões acesos de tardezinha e apagados às dez da noite.

CHAFARIZES. Funcionavam na rua da Glória (Lisandro Nogueira), na avenida Frei Serafim, na antiga rua Santo Antônio (Olavo Bilac), no Bairro São João, no Largo do Poço (praça Landri Sales).

BANHOS. Os homens tinham os chamados portos para banho: o Pau-d'Água, em frente à atual praça Da Costa e Silva, e os das Tabocas, abaixo da ponte metálica.

QUITANDAS. Bem sortidas. Carne-de-sol, porco salgado, toucinho, banha derretida, bacalhau, sardinha portuguesa, pães de massa grossa e sovado, manteiga proveniente da Europa em latas grandes, vendida no retalho. E deliciosos vinhos portugueses.

CALÇAMENTO. Conta-se que o primeiro calçamento de Teresina foi obra de Domingos Monteiro, intendente e prefeito três vezes. Ruas apenas empiçarradas. No verão se levantava muita poeira, chamada PÓ MAMBIRA, pois a irreverência popular apelidara o administrador de Mambira. Conheci Domingos Monteiro, cidadão honesto, trabalhador, culto e dedicado aos problemas da cidade.

QUITUTES. Muito apreciados: os rebuçados de dona Loló, as cocadas da Totonha, a panelada da Luziana, o assado de panela do Filomeno, o cuscuz do João Olegário, os refrescos de pega-pinto, os bolos de dona Quequé, os sorvetes do Café Avenida, as empadas do Manuel Português, as mãos-de-vaca do Doutor. O Bar Carvalho servia filé e fígado de grelha de sabor ainda presente na saudade de quem os comeu, feitos por Gumercindo, Guimarães, José Bebé, Ludgero e o auxiliar Mundico.

MATO. Batia-se o mato das ruas duas ou três vezes por ano. Quando não se conseguiam operários, os serviços se confiavam aos presos da penitenciária.

ENTERROS. Os caixões se levavam a mão por carregadores ou pessoas amigas do defunto. Gente rica pagava mais, com direito a banda de música: os adultos, marcha fúnebre, valsa para as moças virgens, dobrados para os rapazes. Principais funcionários das funerárias: Anísio Veras e Benedito Caixão.


A. Tito Filho, 01/04/1992, Jornal O Dia

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