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sábado, 3 de março de 2012

ONTEM E HOJE

Quem viu os carnavais antigos nunca esquece a alegria e o entusiasmo dos foliões. As fantasias bonitas, os bailes de intensa animação, as melodias inesquecíveis, os préstitos, as batalhas de confetes, - rodelinhas coloridas atiradas pelos foliões uns aos outros, e as lança-perfume, as serpentinas, os cordões, os blocos, o corso - tudo isto se resume em muita saudade de tempos maravilhosos.

De certo tempo a este ano de 1989, o carnaval transformou-se nos bailes e nas ruas, em exibição de bumbuns e seios, numa concorrência erótica das mais perniciosas, beirando o fescenino, o cinismo, o integro despudoramento de fêmeas bem pagas para os gestos e as posturas desavergonhadas pelos rendimentos da publicidade.

No recinto dos clubes a paisagem de desolação moral se torna chocante, com homens e mulheres em cenas degradantes, mostrando as vergonhas que Deus mandou que fossem cobertas. Que dizer da selva dos homossexuais?

Neste país se aboliu a censura para a falta de respeito. Não existem mais normas que devam reger os princípios de moralidade pública. A própria Constituição Federal garante o imoralismo.

O carnaval brasileiro se resume nos bailes de nus dos clubes elegantes e nos desfiles de luxo das escolas de samba, estas patrocinadas pelos cofres públicos - e os Estados e municípios vão copiando a prática e ovacionando a falta de decoro por todos os cantos e recantos.

O célebre Dom Quixote, de Cervantes, que todo cidadão já devia ter lido, mostra, nas suas páginas irreverentes, que as sociedades se modificam nos seus hábitos e costumes e no tipo de moral que passam a adotar, e não podem voltar ao passado.

No Rio, uma escola de samba de grande fama exibiu o LIXO da atual sociedade outrora cantada como maravilhosa. Desfilaram mendigos e outros párias - todos de ricas caracterizações luxuosas e caríssimas. O luxo e o lixo em mistura teatral, e a escola queria no desfile o Cristo Redentor, cuja dignidade foi preservada por decisão da Justiça, a pedido do cardeal Eugênio Sales.

Sinal dos tempos. Parece que a loucura da carne e do dinheiro está levando a humanidade à completa insensibilidade espiritual.


A. Tito Filho, 06/03/1992, Jornal O Dia

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