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segunda-feira, 2 de abril de 2012

MISSÃO ACADÊMICA

As academias de letras, no Brasil, quase todas ou todas, inclusive a brasileira, limitam-se a reuniões de seus membros, para elogios mútuos, recepções de novos acadêmicos e respectiva discurseira. A mania generalizada está em escrever poemas e contos, meio pelo qual conseguem o estrelato, poesia e prosa as mais das vezes representativas de cruel subliteratura.

A Academia Piauiense de Letras foge ao figurino geral. Nela se apresentaram grandes poetas, a exemplo de Martins Napoleão, Moura Rego, Martins Vieira, Lucídio Freitas, entre outros, e notáveis prosadores, do tope de Clodoaldo Freitas, Higino Cunha, João Pinheiro, Abdias Neves, Artur Passos, para lembrar alguns. Entre os vivos existem muitos que honram o sodalício.

A Academia, porém, não ficou nos poetas, nos romancistas, nos contistas. Convocou matemáticos, médicos, engenheiros, juristas, enfim aqueles que se projetaram em qualquer ramo do saber humano. Nem só poetas e prosadores bastam à representação cultural das comunidades.

O jornal teresinense "Correio do Piauí", em editorial do dia 15 de março, escreveu com justiça as palavras seguintes, sob o título APL - UMA VANGUARDA NO PIAUÍ: "Graça Aranha, em famoso discurso na Academia Brasileira de Letras, afirmava: 'se a Academia não se renova, morra a Academia'. Todos, inclusive os próprios acadêmicos, querem, de vez em quando, atacar a instituição que abriga os 40 eleitos que compõem seu quadro. Elas, entretanto, estão de pé e assim continuaram por toda a vida. Haverá sempre uma continuidade dos seus trabalhos. Por isso eles são 'imortais'.

"Trazendo o assunto para a Academia Piauiense de Letras, devemos dizer que, apesar de atacada, nunca saiu para o contra-ataque e nem deixou de cumprir com as suas atividades estatuárias. Devemos dizer, até, que em determinados momentos foi a APL o único órgão a se posicionar contra desmandos governamentais e a propor inovações. Mesmo sendo de linha conservadora, a Academia Piauiense de Letras tem se mostrado, em alguns aspectos, progressista".

"Basta lembrar que foi a Academia Piauiense de Letras a trazer o Cavaleiro da Esperança, o Prestes, ao Piauí para debate. E ainda em um momento que ele era considerado 'elemento perigoso'. Foi a Academia Piauiense de Letras a trazer o médico Eustáquio Portella para falar sobre a Maconha - assunto tabu. Eustáquio chegou, inclusive, a defender o uso da mesma. Outros exemplos poderíamos dar. Contudo, os dois ilustram muito bem o ar de modernidade que é respirado, de quando em vez, na casa de Lucídio Freitas".

"Presidida pelo Mestre A. Tito Filho, recém-eleito para mais um mandato, temos em suas próprias palavras que as 'Academias não devem ocupar apenas as meras conversações de caráter literário, a portas fechadas, em que mais freqüentes são os elogios recíprocos. As academias, antes de tudo, têm obrigações educacionais e culturais para com a coletividade, condenando a amoralidade dos dirigentes governamentais e as futilidades das elites empanturradas de dinheiro de origens obscuras'".

"Mais adiante A. Tito Filho afirma que a Academia Piauiense de Letras 'não se calará diante de escândalos sem conta e frente ao desalento geral de vil pobreza abandonada, sem a alimentação, moradia, saúde, escola e à qual resta a confiança em Deus, que assumiu nossa humanidade e nasceu num estábulo em Belém'".

"Poucas entidades, mesmo as consideradas de esquerda, assumem tal postura, tal compromisso. E o que é mais importante, têm sustentáculo moral para fazerem-se respeitadas".

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Muitas outras personalidades a APL trouxe a Teresina, como o médico Correia Lima, autoridade em AIDS, que ofereceu magnífica aula a centenas de estudantes na Escola Técnica; Afonso Tarantino, notável pneumologista; Assis Brasil, Esdras Nascimento e Afrânio Coutinho, para palestras na Universidade; Austregésilo de Athayde, presidente da Academia Brasileira de Letras, e muitos outros, para cumprimento da missão social acadêmica.


A. Tito Filho, 19/03/1992, Jornal O Dia

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